Transplante Uterino – Um útero ligando três gerações

Em 2013 e 2014 tivemos os primeiros sucessos relacionados às técnicas de transplante uterino, com a primeira gravidez e o primeiro nascimento após transplante uterino, respectivamente. Agora, em 2016, tivemos a publicação do primeiro nascimento após transplante de útero de mãe para filha. Um útero ligando três gerações.
Esse é o segundo nascimento após transplante uterino e assim como o primeiro ocorrido em outubro de 2014, é resultado de anos de estudos e pesquisas de um grupo liderado pelo médico sueco Mats Brännström. Esta é a primeiro nascimento de um bebê a partir do uso do útero de sua avó. Até hoje, apenas 11 transplantes uterinos foram publicados na literatura médica, sendo que 10 usaram doadoras vivas, esse número aumentou com o primeiro transplante brasileiro, no último mês de setembro.
A pesquisa sueca, inclui nove pacientes com ausência de útero ao nascimento (a síndrome de Mayer-Rokitansky-Küster-Hauser), que desde 2013 foram submetidas a este tipo de cirurgia. No caso atual, uma mulher de 28 anos recebeu o transplante uterino de sua mãe de 50 anos, que já tinha tido três gestações. A cirurgia para retirada do útero durou 10 horas e para o implante “apenas” cinco. Um ano após o transplante a receptora teve a transferência de um embrião, que havia sido produzido por fertilização in vitro, antes do transplante uterino e engravidou nesta primeira tentativa. O nascimento ocorreu por cesariana e foi sem intercorrências. Após três meses do parto, a paciente optou por se submeter a uma histerectomia, pois não desejava mais engravidar e para evitar os efeitos colaterais das medicações imunossupressoras, que são utilizadas para evitar a rejeição do órgão transplantado.
Recentemente, no ultimo dia 20 de setembro, o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (HC-FMUSP) realizou o primeiro transplante de útero da América Latina. De acordo com a equipe médica, o procedimento foi bem-sucedido. A paciente apresentava, também, a síndrome de Rokitanski, mas neste caso a doadora havia falecido. Os especialistas que realizaram o procedimento foram enviados para a Suécia em março deste ano para aprimoramento da técnica com a equipe do professor e doutor Mats Brännström, em Gotemburgo.
Este grupo pioneiro de cientistas suecos conclui, até a presente data, que a técnica de transplante uterino, apesar da ainda longa duração dos procedimentos, é inovadora, com poucos eventos adversos e que no futuro, com o aprimoramento cirúrgico, o tempo de cirurgia será substancialmente encurtado. A doadora pode ser viva ou falecida, mas o grupo acredita que a primeira escolha deva ser sempre a mãe da receptora, por ser uma parente muito próxima, já ter gestado e ter pelo menos 50% de compatibilidade do sistema imunológico, diminuindo os riscos de rejeição, devendo-se evitar o uso de úteros que nunca tenham tido gravidez, visto que o fato de já ter passado por uma gestação seria um indício de uma boa qualidade uterina.
Este é, portanto, o primeiro nascimento vivo após transplante uterino de mãe para filha e o segundo nascimento vivo com sucesso. O repetido sucesso desta técnica demonstra que esse é um tratamento futuro possível para mulheres com fatores uterinos de infertilidade, mas que é ainda hoje experimental. Um passo em tanto para a medicina reprodutiva.
Fonte: Fertility and Sterility. Vol. 106, No. 2, August 2016 – American Society for Reproductive Medicine, Published by Elsevier Inc.
Texto escrito por Daniel Diógenes, especialista em Medicina Reprodutiva. Diretor Técnico da Clínica Fertibaby Ceará.

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