TEMAS ATUAIS EM REPRODUÇÃO ASSISTIDA

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Após comparecer, no último mês de Julho, à Londres para participar do Encontro Anual da ESHRE (Sociedade Européia de Reprodução Humana e Embriologia), escrevo sobre os tópicos que mais me chamaram a atenção e que mostram o que as pesquisas mais recentes têm demonstrado e comprovado. Logicamente que como nos baseamos em evidências científicas, as controvérsias existem e as verdades não são absolutas e nem eternas.
1- Time-Lapse
O uso desta recente tecnologia (incubadoras monitorizadas por microscópios com câmeras) permite a avaliação contínua dos embriões, gerando imagens múltiplas do desenvolvimento embrionário, permitindo selecionar os melhores embriões para a transferência embrionária.
Diversos estudos apontam benefícios reais nas taxas de sucesso nos tratamentos de Fertilização in-vitro, nos levando a crer que em pouco tempo esta tecnologia fará parte do dia-a-dia dos laboratórios de reprodução assistida.
Isto parece ser o início da automatização da medicina reprodutiva.
2- Transferência de embriões criopreservados (após congelamento) versus transferência de embriões a fresco
Vários estudos vêm apontando os benefícios de se dividir os tratamentos de fertilização in-vitro em duas etapas: uma para coletar os óvulos e se formar os embriões e outra para se realizar a transferência embrionária. As evidências parecem mostrar que o excesso de uso de hormônios durante os tratamentos provocaria uma alteração no endométrio, deixando-o menos receptivo ao embrião. Portanto, pode ser que num futuro próximo haja uma mudança na forma de como planejamos os ciclos de fertilização in vitro. (este tema já foi abordado neste blog).
3- Papel do endométrio na fertilidade.
Cada vez mais cientistas têm achado e acreditado no papel ATIVO do endométrio na fertilidade. Ele desempenharia uma função de atração pelo embrião, agindo ativamente, assim abandonaríamos a visão do endométrio ser apenas uma unidade receptora e portanto passiva. Isto mudaria a visão e a compreensão da chamada janela de implantação, período no qual a interação entre embrião e endométrio atingiria seu ápice. (o endométrio também já foi tema de artigo neste blog).
4- Progesterona e Receptividade Endometrial
Este hormônio, já conhecido como o hormônio da gravidez, vem sendo considerado cada vez mais importante na obtenção e manutenção da gravidez, estando intimamente relacionado à capacidade da recepção endometrial ao embrião.
5- Hipotireoidismo e Fertilidade
A perfeita harmonia entre os níveis dos hormônios tireoidianos e a fertilidade feminina é algo muito importante. Os estudos demonstram que um perfeito equilíbrio da tireóide está relacionado a uma maior fertilidade na mulher. (tema também já abordado aqui neste blog).
6- Fragmentação do DNA do espermatozóide
Sabe-se que os espermatozóides de pior qualidade tendem a ter uma quantidade maior de material genético danificado (a chamada fragmentação do DNA).
Há exames que procuram quantificar esta fragmentação, entretanto os estudos ainda não demonstraram reais benefícios do uso destes testes a fim de se indicar o melhor tratamento. Portanto, utilizar os testes de fragmentação do DNA do espermatozóide não deve ser, ainda, algo rotineiro. (já falei algumas vezes sobre a fragmentação do DNA do espermatozóide neste blog).
7- Uso de novas drogas hormonais de dose única semanal, evitando injeções diárias nos tratamentos de reprodução assistida. Assim, evitar-se-ia o incômodo das injeções diárias, simplificando todo o seguimento durante um ciclo de estimulação ovariana, sobretudo na fertilização in-vitro. Diversos estudos têm demonstrado que o uso desta nova classe de drogas têm conseguido atingir resultados similares aos das medicações diárias tradicionais.
8- A endometriose, doença que afeta milhares de mulheres no mundo, está longe de ter todos os seus mistérios desvendados. Hoje, existem diversas divergências quanto ao tratamento desta patologia. Estudos recentes demonstraram, por exemplo, que cistos de endometriose no ovário parecem não afetar a ovulação espontânea. Este fato vai contra muito do que se vinha pensando na última década, quando a endometriose era vista quase sempre como uma doença de tratamento cirúrgico. Novas evidências, como as acima, têm provocado uma mudança na visão de como se lidar com esta doença, provocando uma onda menos invasiva, ou seja, diminuindo a visão cirúrgica da endometriose.
9- Uso do Super-ICSI (Injeção intra-citoplasmática de espermatozóide), uma tecnologia que vem sendo utilizada há alguns anos para se analisar e selecionar melhor o espermatozóide, com o uso de microscópios mais potentes, não parece aumentar as taxas de gravidez frente à ICSI tradicional, nos tratamentos de Fertilização in vitro.
Inicialmente vista como uma revolução, o uso desta técnica parece ainda precisar de estudos maiores e melhores que realmente demonstrem que seu uso rotineiro traz benefícios para os casais que se submeterão às técnicas de reprodução assistida. (você pode entender mais um pouco sobre esta tecnologia no site www.danieldiogenes.med.br)
10- Uso de células tronco para se obter espermatozóides
Uma boa notícia para os homens. Pesquisadores alemães têm conseguido desenvolver espermatozóides em meninos pré-púberes a partir de células tronco. Um avanço importantíssimo para se combater os casos graves de infertilidade masculina e mais um das inúmeras utilidades possíveis das células tronco.
11- Idade masculina avançada diminui qualidade do espermatozóide. Mais e mais estudos têm evidenciado que o envelhecimento do homem está relacionado à diminuição da fertilidade masculina. (assunto já abordado aqui neste blog).
12- A presença de HPV no sêmen diminui a fertilidade. Estudos demonstram mais um efeito ruim da infecção pelo HPV, afetando a qualidade do espermatozóide. (assunto também já abordado neste blog).
13- Consumo de café parece não diminuir a reserva ovariana.
 Existe um tabu antigo que relaciona a ingestão de cafeína com infertilidade ou subfertilidade feminina e masculina. Neste congresso, um estudo apresentado não demonstrou haver nenhuma relação, muito embora este tema esteja ainda longe de uma verdade absoluta.
14- Relação de câncer na prole e Fertilização in-vitro
Não se conseguiu, até o presente momento, identificar um aumento do risco de desenvolvimento de câncer nos filhos de casais que realizaram fertilização in-vitro. Uma boa notícia, sem dúvida alguma.
15- Destino dos embriões congelados
Estudos em diversos países apontam taxas relativamente iguais referentes aos embriões congelados. As taxas aproximadas são:
44% desses embriões são usados antes de 01 ano de congelamento
34% não são utilizados no período de até 05 anos – destes, 57% são doados para pesquisa, 26% são doados para outras pacientes e 16% são descartados.
Estas estatísticas, demonstram como vêm se comportando os casais com relação aos seus embriões congelados.
A criopreservação dos embriões é uma grande arma que pode ser utilizada para se obter uma gravidez, mas muitas vezes se torna um problema que hoje em dia ainda não apresenta a solução perfeita. A grande questão, que envolve religião e ciência resume-se  ao que se fazer com os embriões excedentes e muitas vezes “abandonados” pelos casais.
Esses tópicos acima refletem um pouco da atual situação da medicina reprodutiva mundial, seus caminhos e descobertas.
Uma coisa é certa, há, ainda, um longo caminho a ser percorrido em busca da perfeita fertilidade.

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