Sinéquias Uterinas (Síndrome de Asherman) – Tratamento com Células Tronco

Sinéquias uterinas são adesões na cavidade uterina, adquiridas devido a lesões infringidas sobre a mesma.
A presença de sinéquias está intimamente relacionada à infertilidade, a alterações menstruais (ausência de menstruação / hipomenorréia – fluxo menstrual diminuído), à dismenorréia (dor menstrual) e a perdas gestacionais recorrentes.
Quando pelo menos dois terços da cavidade uterina estão afetados por adesões densas que provocam amenorréia ou hipomenorréia, tem-se a caracterização da chamada Síndrome de Asherman, descrita em 1948.
Diversos estudos, como o realizado pelo Departamento de Ginecologia do Centro Médico Carolinas, em Charlotte, Carolina do Norte, nos EUA, em 2012, têm avaliado o tratamento de formas graves de sinéquias (síndrome de Asherman)  e seus resultados em restabelecer a fertilidade.
Existem diversas opções de tratamento de sinéquias após a sua ressecção por vídeo-histeroscopia. Este estudo buscou uma forma de tratar e evitar a recorrência das sinéquias uterinas em casos que já haviam sido tratados anteriormente, ou seja, casos em que as sinéquias voltaram a aparecer após uma ou mais ressecções anteriores.
Foram estudadas 12 (doze) pacientes, todas foram tratadas com o uso de estrógenos (hormônios) antes da ressecção por um período que variou de 30 a 60 dias, com o objetivo de estimular o crescimento endometrial, para facilitar a visualização deste por ultrassom, que foi utilizado como ferramenta auxiliar durante a histeroscopia, para facilitar a ressecção.
Após a ressecção, foi introduzido um balão uterino por 3-7 dias, seguido da posterior introdução de um DIU (dispositivo intra-uterino), além da manutenção do uso do estrógeno, ambos mantidos por, aproximadamente, 10 (dez) semanas.
O intuito de usar o balão e o DIU, após a lise, é impedir que as regiões ressecadas entrem em contato, pois uma vez em contato, existe uma chance maior de recidiva das lesões. A manutenção do estrógeno funciona como um estimulante para crescimento endometrial, diminuindo o risco de formação de novas “cicatrizes”(sinéquias).
Como resultados, foram observadas 06 (seis) gravidezes. Assim, 50% de casos graves, após este tratamento, engravidaram, o que pode ser considerado um excelente resultado, quando se trata de casos como a síndrome de Asherman.
Apesar da pequena amostra deste estudo, este bom resultado traz uma esperança para que possamos superar o grande desafio no tratamento das sinéquias uterinas, que é evitar a recidiva das mesmas e isso só será conseguido mediante um tratamento e acompanhamento de médio a longo prazo.
Atualmente, tem se estudado o uso de células tronco da própria paciente como forma de tratamento para a síndrome de Asherman. Esses estudos pioneiros têm sido liderados pelo IVI (Instituto Valenciano de Infertilidade).
No último dia 15 de março, o tratamento com células-tronco IGX1 para a Síndrome de Asherman desenvolvido pelo laboratório de genética Igenomix (IVI) recebeu o ODD (Orphan Drug Designation) da Agência Europeia de Medicamentos (EMA). É a primeira vez que a EMA formaliza uma opinião positiva com relação ao tratamento dessa doença rara, sendo este, o único medicamento aprovado para tratar tal condição patológica, que entre suas consequências causa a infertilidade.
A medicação IGX1 é um tratamento personalizado que utiliza o transplante autólogo com células-tronco da própria paciente (CD133 expandido + células-tronco hematopoiética).
O programa ODD (EMA Orphan Drug Designation) aporta um status especial para drogas e produtos biológicos destinados a tratar, diagnosticar ou prevenir doenças e distúrbios que afetam não mais de 5 em cada 10 mil pessoas na União Europeia, e são de grande benefício para aqueles afetados pela condição.
Ainda é considerado um tratamento experimental, mas novos avanços em 2018 são esperados, com as novas fases da pesquisa. Esperemos que uma solução melhor para um grave problema, esteja em breve em nossas mãos. No próximo dia 03 de Julho, essa nova abordagem terapêutica será o tema da principal aula (magna) do Congresso Europeu de Reprodução Humana (ESHRE) que será realizado em Genebra, na Suíça.
Fonte: ESHRE (Sociedade Européia de Reprodução Humana e Embriologia) e EMA (Agência Européia de Medicamentos), 2017.
Texto escrito pela Dra. Lilian Serio, especialista em Medicina Reprodutiva e Diretora Clínica da Fertibaby Ceará.

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