Reserva ovariana diminuída – Causa de perda gestacional recorrente

A perda gestacional de repetição é definida como três ou mais perdas consecutivas antes de 20 semanas de gestação ou com peso fetal menor que 500 gramas. A incidência varia de 1 a 5% em mulheres em idade fértil. Numerosos problemas podem provocar a perda de repetição, como: SAAF (Síndrome de Anticorpos Antifosfolípides), miomatose uterina, distúrbios endocrinológicos, infecções, trombofilias e alterações genéticas. Entretanto, aproximadamente 50% dessas perdas são classificadas como inexplicadas. Simplesmente, não se acha uma causa para tamanha frustração.
A reserva ovariana demonstra o potencial reprodutivo, ou seja, o número e qualidade dos óvulos remanescentes nos ovários numa determinada idade. Hoje, os melhores marcadores de reserva ovariana são o Hormônio Antimulleriano e a contagem de folículos antrais, por meio de ultrasom.
Existe uma evidente associação entre idade avançada e perda gestacional, mulheres mais velhas tem mais abortos que mulheres mais jovens. Portanto, essa associação pode indicar uma ligação entre reserva ovariana diminuída e perda recorrente. Baseado nessa hipótese, pesquisadores da Escola de Medicina de Istambul, na Turquia, realizaram uma pesquisa e publicaram seus dados em junho de 2016, na Fertility and Sterility, a revista oficial da ASRM (Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva).
Foram analisadas 71 mulheres, entre 2011 e 2015, que tiveram mais de três perdas gestacionais. O estudo mostrou que parece haver uma relação entre diminuição da reserva ovariana e perda gestacional recorrente, independente da idade, ou seja, mulheres mais jovens, com menos de 35 anos, mas que apresentavam reserva ovariana reduzida apresentaram maior incidência de perda gestacional recorrente. As alterações cromossômicas embrionárias foram a principal razão das perdas nessas pacientes com reserva ovariana diminuída, variando de 35 a 75%, a depender da faixa etária. Isso demonstrou, assim como em outros estudos, uma relação forte entre diminuição da reserva ovular e alterações genéticas embrionárias. Assim como, parece haver uma forte associação entre reserva ovariana diminuída e infertilidade sem causa aparente, fazendo com que uma correta análise da reserva ovariana seja, hoje, item obrigatório e fundamental na análise de uma casal com dificuldades para engravidar.
Este estudo demonstrou a forte importância e ligação da reserva ovariana com a capacidade reprodutiva, mais ainda, mostrou que perdas recorrentes inexplicadas podem e devem ter forte relação com uma baixa reserva ovular. Além disso, evidenciou que a idade cronológica pode não corresponder à idade biológica, visto que mulheres jovens, abaixo dos 30 anos, mas com reserva ovariana diminuída têm mais infertilidade e mais chances para perdas recorrentes.
Frisando novamente, avaliar a reserva de óvulos é fundamental para qualquer mulher em idade fértil que esteja tentando e tendo dificuldades de engravidar e os melhores marcadores desta reserva são o AMH (Hormônio Antimulleriano) e a CFA (Contagem de Folículos Antrais), esses exames devem sozinhos ou em conjunto, juntamente com a idade serem, sempre, levados em consideração. Devem, portanto, ser muito valorizados. A avaliação a reserva ovariana é imperativa e nunca deve ser negligenciada.
Texto escrito por Daniel Diógenes, médico especialista em Medicina Reprodutiva e Diretor Técnico da Clínica Fertibaby Ceará.

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