Reprodução Independente: tendência crescente, mudança de paradigma e avanço da Medicina Reprodutiva

Aos 40 anos, a atriz e modelo Karina Bacchi anunciou, no início deste mês, sua primeira gravidez, fruto de produção independente.
A atriz, que passou por cirurgia para retirada das trompas no ano passado, devido aos problemas causados por uma hidrossalpinge, inflamação causada principalmente pela endometriose ou por bactérias causadoras das doenças clamídia e gonorreia, já não podia mais engravidar naturalmente.
Ainda aos 35 anos, Karina Bacchi havia optado por congelar seus óvulos e, cinco anos após, mesmo sem as trompas, e com idade um pouco mais avançada para engravidar, conseguiu obter a tão sonhada gestação por meio do tratamento de fertilização in vitro, usando sêmen de um doador anônimo estrangeiro. O assunto ganhou repercussão nacional, reacendendo a curiosidade e despertando muito dúvidas entre as mulheres que pensam em realizar o procedimento.
Tendência nacional e mundial
Apesar do “espanto” que notícias como essa causam, a reprodução independente é mais comum do que se imagina. A tendência é crescente no Brasil e em várias outras partes do mundo, tendo em vista o contexto de transformação do comportamento feminino e as mudanças de paradigmas acerca da mulher e do seu próprio corpo. O aumento da participação delas no mercado de trabalho, a busca pela independência financeira e pela realização pessoal e profissional, leva muitas a priorizarem suas carreiras e adiarem a decisão de ter filhos.
Geralmente, essa decisão vem ocorrendo somente quando as mulheres estão se aproximando dos 40 anos, período biologicamente desfavorável às funções reprodutivas femininas, no qual o sonho de engravidar naturalmente pode se tornar impossível. Dessa forma, por não poderem perder mais tempo e, muitas vezes, não terem o parceiro considerado ideal para dividir a responsabilidade da gestação, optam, assim, por uma produção independente.
Doação de Sêmen
No Brasil, ainda existem poucos bancos de sêmen, para os quais a mulher interessada em reprodução independente pode recorrer. Antes, não havia limite de idade para a doação de espermatozoides, mas, em 2013, o Conselho Federal de Medicina (CFM) determinou que somente homens com menos de 50 anos poderiam doar para bancos de esperma. Estudos demostram que filhos de pais mais velhos correm maior risco de desenvolver problemas de saúde.
Para fazer parte do banco de sêmen, os doadores passam por uma bateria de exames para garantir que são saudáveis. Dados como cor da pele, altura, idade e profissão, ficam armazenados em um catálogo, mas a paciente não tem acesso às informações pessoais, como o nome e os dados de contato do doador. Após a escolha do doador, a mulher pode optar entre a inseminação artificial ou a FIV.
Fertilização in vitro: como funciona?
A fertilização in vitro (FIV) é a técnica de reprodução assistida que proporciona maiores taxas de sucesso, variando em torno de 45% a 60%. É, também, atualmente, a técnica mais utilizada no mundo e a mais indicada para mulheres que tiveram problemas nas trompas.
A FIV consiste, primeiramente, na estimulação dos ovários a produzirem uma boa quantidade de óvulos, e em seguida, retirá-los do corpo feminino antes da ovulação para fertilizá-los com os espermatozoides fora do corpo da mulher, em laboratório, com posterior transferência dos embriões para o útero, de dois a cinco dias após a retirada dos óvulos. Nesta técnica, são utilizadas doses de medicações em níveis bem superiores às doses utilizadas na inseminação artificial. O sucesso do tratamento é obtido passo a passo, à medida que cada etapa é vencida. É importante ressaltar que a legislação brasileira permite que se transfiram somente de 2 a 4 embriões por vez, dependendo da idade da paciente. Em mulheres de 40 anos, podem ser implantados até quatro embriões a cada tentativa.
Entre 12 e 14 dias após da transferência embrionária, é realizado o primeiro teste para se atestar a ocorrência da gravidez bioquímica. Somente após 2 a 4 semanas, é que a gravidez clínica pode ser pela identificada por meio de ultrassom. Depois de realizada a FIV, o acompanhamento da gravidez segue normal, como qualquer outra gestação.
Texto escrito por Lilian Serio, Especialista em Medicina Reprodutiva, Diretora Clínica da Fertibaby Ceará.

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