Nasce o primeiro bebê brasileiro gerado em útero transplantado

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Nasceu, hoje, em São Paulo, a primeira criança gerada, no Brasil, após a mãe ter recebido um útero doado de uma mulher com morte cerebral. Essa foi a primeira vez que uma mulher conseguiu avançar na gestação e dar à luz um bebê, após passar pelo transplante de útero, com um órgão de doadora que teve morte cerebral. Em todo o mundo, esse foi apenas o nono nascimento após a realização do procedimento. O transplante de útero é uma técnica recente e realizada em poucos centros médicos no mundo.

No Brasil, os médicos do Hospital da Clínicas, da Universidade de São Paulo (USP) foram os responsáveis pela realização da técnica e pelo parto da paciente. O hospital, também, foi o primeiro a realizar o transplante de útero da America Latina, no ano passado. A mãe da criança tem 32 anos e era portadora da Síndrome de Rokitansky ou ausência congênita de útero, que se dá quando a mulher nasce sem o órgão reprodutor. A mãe, também, passou por processo de fertilização in vitro, dando à luz uma criança completamente saudável.

O transplante de útero surgiu como uma excelente opção para preservação da fertilidade em mulheres com problemas uterinos, tais como: ausência congênita de útero (como no caso da paciente citada), Sinéquias Uterinas ou Síndrome de Asherman (patologia caracterizada pela presença de aderências fibrosas adquiridas devido a lesões), miomatose uterina , adenomiose, a endometriose uterina, doença caracterizada pela invasão do endométrio na camada média do útero (miométrio), câncer de endométrio e câncer do colo do útero, além de outras alterações que possam levar à perda cirúrgica uterina.

Linha do Tempo

A primeira tentativa de transplante uterino foi realizada nos anos 2000, entretanto, 99 dias após a realização da cirurgia, o útero transplantado teve de ser removido por problemas de rejeição no organismo da paciente.

A primeira gestação concebida por meio de útero transplantado é datada de 2013 e ocorreu na Turquia. A doadora do útero havia sido uma jovem de 22 anos que teve morte cerebral após um acidente automobilístico. Já a paciente transplantada, também portadora da Síndrome de Rokitansky, teve de esperar um ano para tentar a gravidez e, dessa maneira, diminuir o risco de rejeição do órgão doado, tendo em vista que, após esse período, seria menor a necessidade de usar drogas imunossupressoras (medicações que interferem no sistema imunológico para diminuir o risco de rejeição), que poderiam ter efeitos negativos na gravidez e no feto.

Antes do transplante, a paciente também havia congelado oito embriões para posterior transferência embrionária. Ela também teve de realizar duas fertilizações in vitro, sendo essa a única maneira de engravidar, já que os ovários não estão conectados ao novo órgão. Porém, com oito semanas de gravidez, a paciente teve a gravidez interrompida por um abortamento.

Pouco mais de um ano após a primeira gravidez com útero transplantado, nasce, na Suécia, o primeiro bebê, fruto do mesmo procedimento. A mãe foi uma mulher de 36 anos, que recebeu o útero de outra de 61 anos, que resolveu doar o próprio útero para uma mulher que queria engravidar.

Riscos

Sabe-se que a gravidez após transplante de útero tem mais riscos e mais chances de problemas do que uma gravidez comum, tais como abortamento, trabalho de parto prematuro, pré-eclâmpsia (pressão alta na gravidez), restrição de crescimento intrauterino e baixo peso ao nascer. Entretanto, apesar do uso das drogas imunossupressoras que precisam ser utilizadas, não parece haver maiores riscos de malformações. O risco de rejeição também existe, mesmo quando a paciente alcançou a gravidez.

O transplante uterino é um grande marco alcançado na história da medicina reprodutiva e o nascimento da primeira criança no Brasil, por meio desta técnica é motivo de orgulho para todos que trabalham na área. O transplante de útero representa a única maneira de levar uma gravidez para muitas mulheres que sofrem com a infertilidade por fatores uterinos. É fantástico poder dar esta opção às mulheres!

FonteFaculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).

ASRM (Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva) – Novembro de 2017.

Texto escrito pela Dra. Lilian Serio. Especialista em Medicina Reprodutiva e Diretora da Clínica Fertibaby Ceará.

 

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