Inseminação Caseira: Método que Imita Processos da Inseminação Artificial de forma amadora oferece Riscos às Mulheres que estão tentando Engravidar

Assunto cada vez mais comum em fóruns e grupos nas redes sociais, a “técnica” denominada “inseminação caseira” tem causado preocupação aos especialistas e à Anvisa. Realizada por mulheres que estão tentando engravidar e, geralmente, não têm acesso às clínicas de reprodução assistida, o procedimento basicamente consiste na coleta do sêmen num recipiente ou até mesmo no preservativo e, em seguida, com o auxílio de uma seringa ou outros instrumentos, faz-se a transferência do material para a cavidade vaginal da mulher, na intenção de fazer com que o esperma seja introduzido o mais próximo do colo do útero.

A grande oferta de kits à venda com os produtos “necessários” para realizar o procedimento e o surgimento de grupos para reunir quem procura e quem doa esperma por conta própria são crescentes e se tornam motores para que haja o esclarecimento e o alerta sobre os diversos riscos aos quais as mulheres se expõem na tentativa de engravidar a todo custo, sem a orientação de um profissional especializado e sem o amparo dos serviços de saúde.

Por serem atividades feitas fora de um serviço de saúde e o sêmen utilizado não provir de um banco de espermatozoides, as vigilâncias sanitárias e a Anvisa não têm poder de fiscalização. A procura por esses meios revela o quanto o desejo de ter um filho mexe com o emocional e o psicológico.

Quando um casal tem um sonho de gerar um filho e após várias tentativas não consegue obter uma gestação, todo tipo de possibilidade para realizar esse desejo pode passar pela cabeça de qualquer pessoa. Porém, primeiramente, é preciso alertar a população sobre os inúmeros riscos que um procedimento amador pode trazer. Além disso, esse método também esbarra em questões éticas, podendo incentivar a prática de situações que são proibidas no Brasil, como o não-anonimato do doador e a venda de gametas (espermatozoides).

Riscos

Fora das clínicas de medicina reprodutiva, os riscos de contaminação para esses procedimentos são iminentes. Nas técnicas caseiras, geralmente são utilizados materiais não esterilizados, aumentando os riscos de a paciente contrair algum tipo de infecção, já que a região da vagina é propícia à proliferação bacteriana. Além disso, ainda há riscos de perfurações, devido à utilização inadequada dos instrumentos, quando feita por um leigo, e o aumento das chances da mulher contrair alguma doença sexualmente transmissível, como HIV, sífilis, hepatite B e C, já que esse sêmen não vai passar por triagem laboratorial, nem clínica ou social, que avalia, dentre vários fatores, os comportamentos de risco, doenças pré-existentes no doador, bem como a ausência de agentes infecciosos.

Eficácia questionável

Além de todos os riscos, a eficácia da inseminação caseira é questionada pelos especialistas. O contato dos espermatozoides com o ambiente externo e com o ar faz com que haja uma diminuição do número de espermatozoides vivos e com movimentos rápidos e efetivos.

O ideal é que casais que não conseguem obter uma gravidez, após um período de pelo menos um ano de tentativas, procurem uma clínica de medicina reprodutiva. Hoje em dia, existem programas de custo reduzido, em que se diminui a quantidade de medicamentos e consequentemente o preço do tratamento, a chamada mini-FIV. Nas clínicas de reprodução assistida há todo o equipamento e o aparato necessários para aumentar as chances de uma gravidez, além de todo o processo ser realizado dentro das normas éticas e de biossegurança.

Não há indicação alguma para se realizar processos ou técnicas de medicina reprodutiva sem um acompanhamento médico detalhado, especializado e coerente, os riscos serão sempre muito superiores aos benefícios.

Texto escrito pela Dra. Lilian Serio. Especialista em Medicina Reprodutiva. Sócia-Diretora da Clínica Fertibaby Ceará.

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