Importação de sêmen tem aumento de 97% no Brasil

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Em apenas um ano, entre 2016 e 2017, o número de importações de sêmen de doadores anônimos para realização de procedimentos de reprodução assistida aumentou 97% no Brasil. É o que revelam os dados da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) divulgados no mês de dezembro do ano passado. De acordo com o 2º Relatório de Importação de Amostras Seminais para Usos em Reprodução Humana Assistida, foram autorizados 860 procedimentos em 2017, frente a 436 em 2016.

O crescimento da procura pela doação de sêmen e pelas técnicas de reprodução assistida são reflexos do aumento do acesso à informação por parte da população brasileira, seguido da quebra de paradigmas sociais e de preconceitos. Felizmente, temas que eram tabus há pouco tempo atrás, como a gravidez independente e a concepção de uma gravidez por casais homoafetivos, atualmente, têm sido melhor compreendidos e contemplados pela legislação, o que facilita o acesso aos procedimentos.

Distribuição regional

Os Bancos de Células e Tecidos Germinativos (BCTGs) da região Sudeste foram os que mais receberam esse tipo de material, com 72% das anuências de sêmen emitidas em 2017, seguidos pelos da Região Sul (13%), Nordeste (8%) e Centro-Oeste (6%).

Novidades do Relatório

Pela primeira vez, o relatório apresenta ainda o levantamento das informações sobre a importação de oócitos, as células germinativas femininas. Nesse caso, o aumento foi de 1.359%, no mesmo período, sendo um número ainda mais significativo. Entre 2015 e 2016, foram importadas 22 amostras. Já em 2017, 321. Todas elas foram destinadas aos BCTGs da região Sudeste.

Perfil dos doadores e dos solicitantes

O documento aponta também informações sobre a procedência e o destino das amostras seminais, como as características fenotípicas dos doadores mais solicitadas no processo de importação (cor dos olhos e do cabelo) e o perfil dos solicitantes.

Quanto às características fenotípicas dos doadores de sêmen, o estudo aponta que a maioria (91%) deles possui pele branca, sendo 45% com olhos azuis e 67% com cabelos castanhos. Já as doadoras de oócitos, são 88% de ascendência caucasiana, com olhos e cabelos castanhos – 49% e 65% respectivamente. Em relação ao perfil dos solicitantes, a pesquisa indica que mulheres solteiras realizaram a maior parte dos pedidos por amostras de sêmen, seguidas de casais heterossexuais e de casais homoafetivos formados por mulheres, em 3º lugar. Quanto à importação de óvulos, todas as amostras foram destinadas a casais heterossexuais.

Segundo o relatório, um dos motivos que levam os brasileiros a buscar doadores em bancos internacionais é a maior quantidade deles em relação aos do Brasil, além do amplo acesso às informações como características físicas, intelectuais, psicológicas, testes genéticos já realizados e até dados sobre a família do doador, com relatos de doenças preexistentes.

No Brasil, ainda há poucos bancos de sêmen, sendo a maioria deles localizada em São Paulo. Com poucas alternativas, os pacientes muitas vezes têm dificuldades de encontrar um doador ou doadora com as características almejadas. Além disso, não existem bancos de óvulos congelados para doação no País.

Para fazer doações aos bancos de células germinativas, os doadores precisam passar por uma bateria de exames para garantir que são saudáveis. Dados como cor da pele, altura, idade e profissão ficam armazenados num catálogo, mas os solicitantes não têm acesso às informações pessoais, como o nome e os dados de contato do doador. Após a escolha do doador, pode-se optar entre a realização de uma inseminação artificial ou uma fertilização in vitro (FIV).

Esses dados são animadores e demonstram que estamos caminhando em direção a um futuro onde a fertilidade poderá ser oferecida a todos, independente do problema que cause a mesma e da orientação sexual de cada indivíduo. O importante é termos alternativas concretas e saudáveis para que todos possam de uma forma ou de outra buscar ter uma fertilidade plena.

Fonte: ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). SBRA (Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida). Janeiro de 2019.

Texto escrito pelo Dr. Daniel Diógenes. Especialista em Medicina Reprodutiva. Sócio-Diretor da Clínica Fertibaby Ceará.

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