Idade e Fertilidade: Um equilíbrio sócio-biológico

Existem diversas variáveis que influenciam a relação idade e fertilidade, como, por exemplo os seguintes fatores: o biológico, social, político, econômico, científico, médico e tecnológico.
Na metade do século passado as mulheres passaram a organizar suas prioridades a partir do uso de anticoncepcionais, decidindo a sequência de educação, carreira e gravidez, fato que não era possível anteriormente. A imprensa da época promoveu a ideia de a mulher moderna teria a prerrogativa de decidir quando ter filhos, por outro lado outros defendiam a ideia de que o lugar ideal das mulheres era em casa, cuidando dos filhos.
O sucesso da medicina reprodutiva e das suas tecnologias reforçou a ideia de que a gravidez pode ser adiada sem, significativamente, aumentar o risco de não ter filhos. Na verdade, pode-se argumentar que a indústria da reprodução assistida tenha crescido em decorrência do aumento da demanda por estes serviços por mulheres entre 30 e 40 anos, mostrando uma relação inversa entre fecundabilidade e idade do sexo feminino. Um artigo das pesquisadoras americanas Anne Steiner e Anne Marie Jukic, de Junho de 2016, publicado na revista mensal da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva, a Fertility and Sterility, acrescenta informações importantes sobre o declínio da fecundabilidade depois dos 30 anos.
Fertilidade é a taxa de nascimento por 1000 mulheres em idade reprodutiva e pode refletir os tipos de forças sociais e econômicas de cada época. Por exemplo, o momento pós guerra, nas décadas de 50 e 60, levou a um aumento da taxa de nascimento e a recessão econômica de 2008-2009 levou a uma queda da mesma.
O conceito de fecundabilidade, no entanto, refere-se à probabilidade de gravidez durante um dado ciclo menstrual. Esta é a forma mais apropriadamente usada para avaliar uma tendência na capacidade biológica de mulheres para engravidar à medida que progridem os anos reprodutivos.
As autoras descobriram que pacientes com uma faixa etária de 30-31 anos tem uma taxa de fecundabilidade de 20% e essas taxas diminuem progressivamente atingindo 6,6% aos 42-44 anos. Analisando pacientes nulíparas (que não tiveram filhos ainda), essas teriam uma taxa de fecundabilidade menor que outras mulheres da mesma idade com história pregressa de gestação, assim como a extensão do declínio com o passar dos anos.
Neste contexto, o tempo depende de uma variedade de fatores que, de fato incluem educação, carreira, família, finanças, e, sim, a idade. Portanto, a decisão de ter filhos é extremamente pessoal, devendo somente os profissionais da área aconselhar os casais e esclarecer este declínio inerente de cada paciente.
Para qualquer mulher ou casal, a decisão de ter um filho é intensamente pessoal. Mais importante ainda, essa decisão reflete um senso de profundo compromisso com o outro e com os futuros filhos. Assim, esses fatores citados acima (carreira, idade, família e sobretudo idade) são equilibrados de forma diferente por cada mulher ou casal . Os dados desse artigo, quantificando o declínio da fecundabilidade para as mulheres à medida que atingem seus 30 e 40 anos, é, sem dúvida, extremamente útil para que possamos aconselhar melhor nossas pacientes.
Texto escrito pelo Dr. Roberto Didier, especialista em Medicina Reprodutiva, médico membro da Clínica Fertibaby Ceará, em Sobral.

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