FREEZE-ALL – A Era do Gelo?

Com a difusão das técnicas de congelamento rápido (vitrificação), em substituição ao congelamento lento, obtivemos um enorme ganho nas taxas de sobrevivência após descongelamento de óvulos, espermatozoides e embriões. Com isso surgiu uma nova perspectiva: realizar ciclos de fertilização in vitro em dois tempos, ou seja, sempre transferir embriões após o ciclo de estimulação ovariana. Desta forma, teoriza-se que tenhamos um ambiente endometrial mais favorável e com menos influência hormonal e portanto, mais próximo do natural, conseguentemente melhor.
Nos últimos anos, muito tem se falado sobre este assunto, porém é preciso analisar com cuidado os dados científicos e ter cautela antes de adotar o “freeze all” (congelamento sempre) como rotina. Vamos aos principais pontos de questionamento:
Dados Positivos:
  1. Possibilita maior chance de transferência única, já que podemos congelar sem medo de perder a qualidade.
  2. Minimiza o risco de gemelaridade.
  3. Minimiza o risco de SHO (síndrome de hiperestímulo ovariano), já que não é preciso transferir no mesmo ciclo de estimulação ovariana.
  4. Parece levar a um maior peso ao nascimento, o que seria melhor para o recém-nascido.
  5. Parece levar a menores riscos de sangramento durante a gravidez, por uma melhor interação embrião – endométrio.
Dado Negativos:
  1. Não existe uma grande quantidade de pesquisas de boa qualidade que justifiquem o uso rotineiro do “freeze all”.
  2. Vários estudos demonstraram taxas iguais quando compararam transferência a fresco versus transferência de embriões congelados.
  3. Em geral, as pacientes que são selecionadas para o congelamento são pacientes de melhor prognóstico, levando a um viés enorme (falha na avaliação dos dados científicos de uma pesquisa).
  4. Não se sabe, ainda, qual o melhor estágio para se congelar o embrião.
Portanto, não há, ainda, um conjunto de evidências robustas o suficiente para garantir que o “frezze all” é melhor que a transferência a fresco, em termos de efetividade e segurança.
Como tudo que se baseia em evidência científica, não temos dados suficientes para o uso rotineiro desta técnica. É preciso ter cuidado, sempre, antes de usar na prática do dia-a-dia, com relação ao emprego de novas técnicas, tecnologias ou medicações que demonstram resultados milagrosos e fantásticos em pesquisas de baixa qualidade, antes da devida comprovação científica. O uso de novas descobertas sem respaldo científico pode, além de não acrescentar nada positivo ao tratamento e torná-lo mais caro, prejudicar e diminuir as chances de sucesso do mesmo.
É preciso ter muito cuidado e visão crítica antes de colocar em prática novas descobertas e tendências. A medicina moderna é sempre baseada em evidências científicas, nunca em “achismos” ou “suposições sem base científica”.
Fonte: Revisão bibliográfica* realizada em Novembro de 2016, para aula ministrada pelo Dr. Daniel Diógenes, no XXIX CONGRESSO NORDESTINO DE GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA, realizado de 17 a 19 de Novembro de 2016, em Fortaleza, Ceará.
* Revistas: Fertility and Sterility, Human Reproduction e  Human Reproduction Update – Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva – ASRM e  Sociedade Européia de Reprodução Humana e Embriologia – ESHRE.
Texto escrito por Daniel Diógenes, médico especialista em Medicina Reprodutiva, Diretor Técnico da Clínica Fertibaby Ceará.

Compartilhe: