Dados do 11º Relatório do Sistema Nacional de Produção de Embriões (Sisembrio), da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), divulgados no final do ano passado, revelam que o número de Fertilizações in Vitro (FIV) voltou a crescer no país. Após registrar uma queda em 2016, o ano seguinte contabilizou 36.307 ciclos realizados em todo o território nacional. Deste número, 30% resultou em nascimentos de bebês. Ou seja, mais de 10 mil crianças são geradas por tratamento de reprodução assistida por ano, no Brasil.
Para a Anvisa, são considerados, como ciclo realizado de fertilização in vitro, os procedimentos médicos nos quais a mulher é submetida à produção (estímulo ovariano) e retirada de oócitos para realizar a reprodução humana assistida. O Ceará é o 11º estado brasileiro no ranking daqueles que mais realizaram o procedimento.
Os números representam os avanços das técnicas de reprodução assistida e da legislação que prevê as regras para a realização dos procedimentos. Os números de nascimentos poderiam ser ainda maiores se os casais que apresentam problemas de infertilidade não procurassem ajuda tão tarde.
O Brasil caminha igualmente, com países de primeiro mundo, em termos de tecnologia, qualidade e capacitação das clínicas de fertilização e dos profissionais da medicina reprodutiva. A lei brasileira, também, tem avançado e contribuído para que mais pessoas tenham acesso aos tratamentos, como os casais homoafetivos, que até 2015 não eram contemplados. Além disso, nos últimos anos, a lei flexibilizou as possibilidades para recorrer ao útero de substituição e à doação de gametas. O que impede esse número ser ainda mais animador é que a idade continua sendo o principal entrave para o sucesso dos tratamentos. Infelizmente, os casais ainda adiam muito a concepção dos filhos e procuram por ajuda especializada cada vez mais tarde. A idade é muitas vezes implacável mesmo para os tratamentos mais modernos.
Fertilização in Vitro: Como funciona?
A fertilização in vitro (FIV) é a técnica de reprodução assistida que proporciona maiores taxas de sucesso, variando em torno de 45% a 60%. É também, atualmente, a técnica mais utilizada no mundo e a mais indicada para mulheres que tiveram problemas nas trompas. A FIV consiste, primeiramente, na estimulação dos ovários para o amadurecimento e crescimento de uma boa quantidade de óvulos, e em seguida, retirá-los do corpo feminino antes da ovulação para fertilizá-los com os espermatozoides fora do corpo da mulher, em laboratório, com posterior transferência dos embriões para o útero, de dois a cinco dias após a retirada dos óvulos.
Nesta técnica, são utilizadas doses de medicações em níveis bem superiores às doses utilizadas na inseminação artificial. O sucesso do tratamento é obtido passo a passo, à medida que cada etapa é vencida. É importante ressaltar que a legislação brasileira permite que se transfiram somente de 1 a 4 embriões por vez, dependendo da idade da paciente. Em mulheres acima de 40 anos, podem ser implantados até quatro embriões a cada tentativa.
O crescimento do número de casos é salutar e serve de alerta para a importância do uso da medicina reprodutiva quando necessária, mas serve de alerta para um grande problema: a falsa ideia de que os tratamentos de reprodução assistida podem resolver todos os problemas e serão efetivos a qualquer momento, em qualquer idade da mulher ou do homem.
Nada é capaz de reverter uma idade avançada, espermatozoides e especialmente óvulos de baixa qualidade e quantidade influenciam muito negativamente os resultados de uma fertilização in vitro. A FIV precisa de uma boa “matéria-prima” para ser efetiva, sem bons óvulos e espermatozoides fica impossível atingir-se a plenitude nos resultados em medicina reprodutiva.
A dica é ter muito cuidado com a questão IDADE. Após os 35 anos, sobretudo para mulheres, a qualidade e quantidade dos óvulos cai muito rapidamente. Idade é tudo quando se pensa em FERTILIDADE.
Fonte: Anvisa e SBRA (Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida). Fevereiro de 2019.
Texto escrito pelo Dr. Daniel Diógenes. Especialista em Medicina Reprodutiva. Sócio-Diretor da Clínica Fertibaby Ceará.