Ética e Medicina

Esse artigo é, antes de tudo, uma forma de repudiar os últimos episódios envolvendo o médico ginecologista da cidade de Uruburetama, no Ceará, José Hilton Paiva, que ganhou repercussão nos últimos dias por abusar covardemente de pacientes, enquanto realizava “consultas”. Tal prática, infelizmente, ainda pode ser observada em muitos consultórios e muitas vezes as pacientes nem ao menos se dão conta o que aconteceu, apenas quando verificam as marcas que ficam após o abuso.

É válido ressaltar que a violência sexual tem efeitos devastadores nas esferas física, mental e social das vítimas. Além dos prejuízos à saúde, atinge toda a sociedade ao colocar o medo do estupro como um elemento cotidiano da vida das mulheres, podendo prejudicar seu pleno potencial de desenvolvimento e sua liberdade.

Conforme previsto no artigo 102 do nosso Código de Ética, no parágrafo B consta que não devemos abusar do poder, submetendo o paciente a vexames, ou tratamento incompatível com a situação. Portanto, o médico deve estar sempre pautado nos princípios éticos da medicina e isso envolve, principalmente, o cuidado com o paciente e não o abuso sexual que causa danos irreversíveis à vítima.

Não apenas o senhor José Hilton merece ser culpado e retirado dos quadros médicos, mas também todos aqueles que usam da profissão para praticar crimes. Afinal, além de prejudicar uma parcela da população, esses indivíduos descredibilizam a classe médica e deixam pacientes com medo e desconfiadas, quando na verdade estas deveriam se sentir, extremamente, seguras ao entrar em um consultório.

É inadmissível que casos como esses continuem acontecendo. Os órgãos responsáveis pela Sociedade Médica devem estar cada vez mais atentos, não dando voz apenas aqueles casos que surgem na mídia de grande massa, mas estudando a fundo o depoimento de cada vítima que porventura tenha sofrido abusos sexuais em consultórios médicos.

A mulher não pode mais se sentir insegura e estar refém de práticas machistas, ela precisa ser a dona do seu próprio corpo e os médicos, principalmente ginecologistas, devem ser incentivadores dessa prática e não mais um motivo para que elas sintam medo de mostrar seu corpo e de cuidar de si mesma.

Temos que lembrar que no campo da medicina reprodutiva tivemos na última década o famoso caso, similar ao atual, do ex-médico e especialista em reprodução assistida, Roger Abdelmassih, que hoje encontra-se cassado e em prisão domiciliar. Infelizmente, em qualquer profissão existem os bons e os maus profissionais. Nos cabe combater firmemente esse tipo de comportamento.

Texto escrito pela Dra. Lilian Serio. Especialista em Medicina Reprodutiva. Diretora da Clínica Fertibaby Ceará.

 

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