Estimulantes Sexuais: o consumo deles é aliado ou vilão da Fertilidade?

O consumo de produtos e medicamentos que prometem ajudar a aumentar a libido ou a melhorar o desempenho sexual é uma prática comum não apenas entre os homens, mas também entre as mulheres.
O desejo de demonstrar virilidade e de agradar o parceiro ou a parceira durante a relação sexual leva muitas pessoas ao uso indiscriminado de remédios e substâncias que podem causar, em contrapartida, efeitos nocivos à saúde. O uso inadequado e excessivo de pílulas, como o sildenafil, mas popularmente conhecido como “Viagra”, além da testosterona e até mesmo de substâncias presentes em produtos como lubrificantes vaginais podem causar, entre muitos outros problemas, a infertilidade ou até mesmo a morte.
Sildenafil (Viagra)
No caso de medicamentos como o Viagra, a maior preocupação é o com o uso considerado “recreativo” do medicamento. De acordo com pesquisa realizada pela Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) e a Bayer HealthCare, em 2015, com 3.200 homens entrevistados, em oito capitais brasileiras, 62% já haviam utilizado essas substâncias por meio da automedicação, recomendada por amigos, na farmácia ou por meio de informações encontradas na internet. Indicado para problemas de disfunção erétil, o Viagra surgiu há mais de dez anos e revolucionou a vida de muitos homens que sofriam com o problema, ajudando-os a ter uma vida sexual normal. Porém, pelo fato de não haver maiores restrições para sua venda em farmácias, não sendo exigida a apresentação de receita médica, muitos jovens consomem o medicamento como um potencializador de ereção.
Recomendação
O remédio é recomendado apenas para casos específicos de homens que têm dificuldade de dilatação das artérias na região peniana. É importante salientar que o Viagra não é um medicamento desenvolvido com a intenção de aumentar a libido, como acredita-se popularmente. Disfunções eréteis e sexuais relacionadas à falta de libido são tratadas com outro tipo de medicação e acompanhamento terapêutico ou psiquiátrico. A composição do Viagra é vasodilatadora e, portanto, funciona apenas como facilitadora da ereção. O remédio não tem qualquer efeito sobre o desejo sexual do homem. Ele só funciona se já houver estímulo. Se o homem é saudável e consegue promover a ereção sozinho, o remédio não vai deixar o pênis mais rígido.
O uso do remédio de maneira indiscriminada pode levar à dependência e, em casos de homens com idade mais avançada ou com problemas cardíacos, pode levar à morte, aumentando o risco de infartos.
Viagra X Fertilidade
Com relação à influência dos efeitos do Viagra na fertilidade masculina, há alguns relatos na medicina de que ele pode causar danos ao esperma em casos extremamente raros. No entanto, as chances de isso acontecer são muito pequenas.
O remédio pode ser usado, inclusive, por mulheres com problemas no endométrio, tecido que reveste a parte interior do útero, ajudando-as a alcançar a espessura ideal para permitir a implantação do embrião. A espessura deve ser de no mínimo 7 mm. Por isso, quando o endométrio é considerado impróprio, ou seja, com menos de 7 mm, durante o período fértil, o médico pode indicar o uso de medicamentos que aumentam a sua espessura, como o Viagra, por exemplo.
Testosterona
O uso sem indicação médica de reposição de testosterona, o principal hormônio sexual masculino, é muito comum entre pessoas que querem aumentar a libido ou ganhar massa muscular rapidamente, sendo totalmente inadequado e desaprovado pela Sociedade Brasileira de Urologia (SBU). A venda de alguns medicamentos à base do hormônio é permitida, mediante apresentação de receita médica, porém, com a deficiente fiscalização brasileira, muitas farmácias violam a lei e vendem injeções e géis de testosterona livremente.
O aumento desse hormônio acima do nível normal pode elevar a concentração de células sanguíneas (hemácias) no sangue, desenvolvendo o risco de embolias, causar aumento (ginecomastia) e dor nas mamas (mastalgia), aumento da glândula prostática e uma série de disfunções hormonais no organismo, que resultam na atrofia dos testículos e, consequentemente, na diminuição da produção de espermatozoides e na infertilidade, às vezes de maneira irreversível.
É preciso entender que a queda da produção de testosterona faz parte do processo de envelhecimento masculino. A partir dos 40 anos, o homem tem seu nível de testosterona diminuído em 1% ao ano. A partir dessa idade, é comum o homem reclamar da falta de libido e da dificuldade de ereção, mas, se a redução estiver dentro do previsto, não adianta receitar hormônio porque não haverá melhora.
A reposição de testosterona só é indicada quando há o diagnóstico de hipogonadismo, que é a baixa produção do hormônio. Há casos raros de homens, com menos de 40 anos que, além da queda da libido e da disfunção erétil, sofrem com desânimo, cansaço excessivo, piora do sono, perda de massa muscular e de pelos corpóreos, problemas de memória, alteração de humor, fragilidade óssea e depósito de gordura no abdômen. Apenas nesses casos, a reposição do hormônio é indicada.
Em pacientes com mais de 40 anos, é preciso primeiramente excluir todas as possibilidades de problemas de próstata antes de começar a reposição hormonal, já que o tratamento acelera a evolução de doenças malignas ou benignas.
Homens saudáveis, principalmente os que pretendem ter filhos, devem evitar a ingestão indiscriminada de testosterona. Quando o homem ingere o hormônio sem necessidade, bloqueia a hipófise, glândula essencial para a produção de espermatozoides. Nos casos em que se usa por muito tempo, a infertilidade pode não ser reversível. São comuns os casos de pacientes que chegam ao consultório com a produção de espermatozoides diminuída ou zerada devido ao uso inadequado da reposição de testosterona. Por meio do espermograma, exame que avalia número, mobilidade e morfologia das células reprodutoras masculinas, a infertilidade pode ser constatada.
Na maioria dos casos, a infertilidade é revertida com a suspensão do medicamento, mas não imediatamente. A demora é de seis meses a um ano para obter uma resposta, pois cada ciclo de produção de espermatozoide, ou espermatogênese, dura aproximadamente 40 dias. Nos casos em que a baixa produção de células reprodutoras masculinas continua após esse período, o indicado é que o paciente que deseja gerar um filho recorra às técnicas de reprodução assistida.
Lubrificantes Vaginais
Usados por mulheres com dificuldades de lubrificação natural, os lubrificantes artificiais, comumente vendidos em farmácias ou sex shops, podem atrapalhar aquelas que estão buscando a concepção, pois prejudicam a locomoção e, em alguns casos, podem até matar os espermatozoides.
Segundo estudo intitulado “Toxicidade do esperma ou “não espermicida” lubrificante e géis de ultrassom usado em medicina reprodutiva” (Sperm toxicity of “non spermicidal” lubricant andultrasound gels used in Reproductive Medicine), publicado pela revista científica Fertility and Sterility, em fevereiro de 2011, muitos lubrificantes e até mesmo alguns tipos de gel utilizados nos exames de monitorização de ovulação, são tóxicos aos espermatozoides, mesmo não contendo espermicidas em suas fórmulas.
As pesquisas apontam que esses produtos podem interferir no papel do muco cervical durante a concepção. A vagina, mesmo tendo um pH controlado, acaba contribuindo para a morte dos espermatozoides que passarem ali, um tempo além do necessário. O muco cervical é produzido pouco antes da ovulação e envolve o espermatozoide, conservando-o e ajudando-o na locomoção, fazendo com que ele chegue mais rapidamente ao óvulo.
O lubrificante artificial, ao envolver os espermatozoides, retarda sua chegada ao muco, fazendo com que eles acabem morrendo no ambiente ácido da vagina, antes mesmo de entrar no útero. A elevada quantidade de sal nesses lubrificantes, desidrata e acaba atrapalhando a mobilidade dos espermatozoides.
Algumas marcas de lubrificantes afirmam que suas fórmulas não prejudicam os espermatozoides, mas os especialistas acreditam que qualquer substância artificial colocada na vagina para torná-la mais úmida, seja um produto vendido em farmácia ou uma solução caseira, pode apresentar problemas para quem está tentando engravidar. O melhor lubrificante para quando a mulher está tentando engravidar vem do próprio corpo dela: é a secreção natural produzida quando está excitada.
Tribulus Terrestris
O Tribulus Terrestris é um medicamento fitoterápico proveniente de uma erva daninha encontrada em diversas partes do mundo, principalmente no Mediterrâneo. É utilizado para diversas finalidades, sendo o ganho de massa magra e o estimulo sexual as principais, já que há indícios de que ele é capaz de aumentar as concentrações de testosterona no sangue, que por sua vez promove o ganho de massa muscular e o aumento da libido. Popularmente, o tribulus terrestris é considerado o “viagra natural”, podendo atuar contra a disfunção sexual. No entanto, esses efeitos não são comprovados cientificamente. Já foram realizadas diversas pesquisas cientificas com tribulus terrestris e os resultados ainda são bastante contraditórios. Alguns estudos isolados até apontam efeitos adversos como toxicidade e ginecomastia. Portanto, antes de fazer o uso, é necessária a avaliação de um especialista.
Quando há a recomendação médica, geralmente em casos de homens com problemas de ereção e também para pessoas que têm queda hormonal, o ideal é que o fitoterápico seja ingerido na forma de extrato ou cápsula. Não se deve consumir a planta na forma in natura ou em forma de chá.
A orientação é tomar o tribulus por quatro a seis semanas e depois fazer uma pausa de mesmo tempo.
Pessoas que possuem qualquer tipo de câncer devem evitar o uso da substância. Caso contrário, pode haver piora. Mulheres com alterações na suprarrenal, excesso de pêlo, problemas de hipertrofia do clitóris, síndromes de androginia, queda de cabelos e pele oleosa, também, não devem consumir. O tribulus terrestris também não é orientado para gestantes, lactantes e crianças. O consumo em excesso ou por tempo prolongado do tribulus terrestris pode causar diversas complicações, como aumento do clitóris, atrofia testicular, alteração do ciclo menstrual, acne, aumento de pelos e infertilidade.
Fonte: SBU (Sociedade Brasileira de Urologia) e ASRM (Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva)
Texto escrito pelo Dr. Daniel Diógenes, especialista em Medicina Reprodutiva, Diretor Técnico da Clínica Fertibaby Ceará.

Compartilhe: