Endometriose Profunda – Diagnóstico e Tratamento

A endometriose infiltrativa profunda é um, digamos, subtipo de endometriose, que se caracteriza pela presença de lesões de endometriose que invadem o local atingido com uma profundidade superior a 5 mm. Em geral, é multifocal, manifestando-se em várias regiões da cavidade pélvica. Em ordem decrescente, os locais mais afetados seriam: ligamentos útero-sacros (25-69%), vagina (14%), intestino (10%), bexiga (7%) e ureter (5%).
O melhor exame para o diagnóstico da endometriose profunda é o ultrassom transvaginal para mapeamento de endometriose, com preparo intestinal adequado e realizado por mãos experientes, aliás, muito experientes. Esse é o considerado padrão ouro para o diagnóstico desta patologia.ão.
Um grupo de pesquisadores brasileiros realizou uma pesquisa para tentar identificar a ligação entre a presença de endometriose profunda nos diferentes orgãos, sobretudo buscando uma conexão entre os locais mais atingidos e os locais de mais difícil diagnóstico, como a endometriose na região do ureter.
Esse tipo específico de acometimento é de difícil diagnóstico ao ultrassom e pode silenciosamente provocar danos importantes em um orgão vital, o rim, com sua dilatação (hidronefrose) e perda de função, podendo levar a necessidade de uma nefrectomia (retirada cirúrgica do rim).
Os achados desta pesquisa demonstraram uma ligação entre a presença de endometriose nos ligamentos útero-sacros e nos ureteres do mesmo lado da cavidade pélvica. Foram analisadas 463 pacientes com endometriose profunda diagnosticada ao ultrassom de mapeamento. Destas 463, 111 (24%) tinham espessamento ou nódulos nos ligamentos útero-sacros. Das pacientes que apresentaram espessamento em útero-sacros, 35% apresentaram acometimento do ureter. O acometimento ureteral foi sempre extrínseco (sem atingir internamente o orgão) e a retirada da lesão ureteral foi realizada sem grande dificuldades, por meio da chamada ureterólise (“libertar o ureter da lesão endometriótica”). Além disso, a presença de lesões ureterais esteve mais associada a presença de endometriose no ovário ipsilateral (do mesmo lado do ureter), lesões retrocervicais (atrás do útero) e vaginais.
Os resultados desta pesquisa mostraram uma forte ligação entre a presença de endometriose em diferentes partes da cavidade pélvica e alerta quanto à necessidade de um bom diagnóstico da doença para que se possa ter a correta abordagem cirúrgica.
Lembrando que a indicação cirúrgica da endometriose depende de uma série de fatores, como:
  1. Falha do tratamento clínico (uso de medicações) para a dor.
  2. Extensão das lesões (grande comprometimento de intestino, bexiga e ureteres, por exemplo) o que comprometeria a função dos rins, da bexiga e do intestino, podendo levar a obstruções intestinais e renais.
  3. Fertilidade, principalmente quando os ovários estão envolvidos, visto que a remoção dos endometriomas ovarianos pode ter como causa uma redução drástica e sem volta da reserva ovariana, diminuindo em muito as chances de gravidez. Nestes casos específicos, cirugiões e especialistas em medicina reprodutiva devem em conjunto decidir a melhor abordagem para a paciente, que muitas vezes é conjunta, com o uso da cirurgia e das técnicas de medicina reprodutiva, como: fertilização in vitro e congelamento de óvulos e/ou embriões.
A conclusão a que se chega é que cada paciente com endometriose deve ser tratada individualmente e por uma equipe multidisciplinar, que permita desde o correto diagnóstico a um tratamento coerente e eficaz tanto para a dor quanto para a fertilidade, evitando ao máximo as complicações desta complexa doença.
Fonte: Setor de Endometriose e Ginecologia Endoscópica, do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia, da Escola de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. Junho de 2017.
Texto escrito pela Dra. Lilian Serio. Especialista em Medicina Reprodutiva e Diretora Clínica da Fertibaby Ceará.

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