Embriões de alta qualidade provenientes de óvulos imaturos, como obtê-los?

A maturação in vitro é uma técnica de reprodução assistida que induz a maturação meiótica da prófase I para a metáfase II, em óvulos recuperados de pequenos folículos ovarianos minimamente estimulados.
Esta técnica é extremamente importante para pacientes em situações diversas, tais como: síndrome da hiperestimulação ovariana; contraindicação aos níveis muito elevados de estradiol durante a indução de ovulação convencional; preservação da fertilidade em pacientes oncológicas com indicação imediata de quimioterapia ou radioterapia, sem tempo hábil para utilização de protocolos convencionais de estimulação ovariana; pacientes com má resposta ao estímulo ovariano; síndrome de resistência ovariana ao FSH; ou ainda para a recuperação e utilização de óvulos imaturos coletados em ciclos de fertilização in vitro convencional.
Em mulheres com ovários policísticos é fundamental o correto uso do hCG para o desencadeamento da ovulação (em folículos pequenos) e consequentemente a recuperação de óvulos capazes de maturar in vitro.
De uma forma geral, o uso do HCG em folículos pequenos (menores que 12 milímetros) pode resultar na recuperação   de óvulos em diferentes estágios de maturidade (desde os mais imaturos, em estágio de vesícula germinativa, metáfase I, até os maduros em metáfase II). Entretanto, isto resultaria em horários diferentes para realização da injeção intracitoplasmática de espermatozoides nos óvulos e na produção de embriões em diferentes estágios de desenvolvimento. Além disso, a maturidade nuclear (que classifica os óvulos em metáfase II) muitas vezes pode estar adiantada em relação a maturidade citoplasmática do óvulo, ou seja o núcleo se prepara para a fertilização enquanto o citoplasma continua imaturo.
Um óvulo com o citoplasma maduro contribuirá para a nutrição celular no início do desenvolvimento embrionário aumentando as taxas de gravidez. Enquanto um óvulo com o citoplasma imaturo, apesar de fertilizar, prejudica o desenvolvimento embrionário satisfatório.
Estudos buscam desacelerar a maturidade nuclear e sincronizá-la com a maturidade citoplasmática a fim de realizar a injeção intracitoplasmática de espermatozoides em óvulos mais competentes e consequentemente mais aptos a fertilização e ao desenvolvimento embrionário, aumentando as chances de gravidez em mulheres com ovários policísticos e folículos pequenos ou minimamente estimulados.
Uma estratégia para desacelerar a maturidade nuclear (através de um bloqueio meiótico) pode ser a utilização do peptídeo natriurético do tipo C, que é um agente natural produzido e liberado pelas células da granulosa que bloqueia somente a maturação nuclear dos óvulos, mas não interfere na maturação citoplasmática. Este bloqueio da maturação nuclear pode ser feito por algumas horas, enquanto o citoplasma também amadurece. Pode ser feito um estímulo (com FSH ou ampirregulina) para a retomada da maturidade (nuclear e citoplasmática) dos óvulos.
Fisiologicamente os hormônios que propiciam a ovulação induzem a expressão de ampirregulina, um fator de crescimento sintetizado também pelas células da granulosa e que estimula a maturação dos óvulos.
Em um bem delineado experimento publicado na Revista Human Reproduction em outubro do presente ano pelo especialista em Bioquímica Médica e doutor em Medicina Reprodutiva, o professor Dr. Johan Smitz e sua equipe, foram utilizados óvulos provenientes de folículos pequenos de 15 pacientes inférteis devido síndrome de ovários policísticos e os submeteram a um tratamento com o peptídeo natriurético do tipo C e posteriormente seguido de estímulo com FSH e ampirregulina.
Este estudo mostrou que o tratamento com essas substâncias aumenta o potencial de maturação dos óvulos levando a uma maior disponibilidade de embriões e blastocistos de boa qualidade disponíveis para transferência.
Ainda nesta publicação foram realizados estudos complementares onde foram avaliados os efeitos do uso do peptídeo natriurético do tipo C e da ampirregulina na maturação in vitro e posterior desenvolvimento embrionário em geral, configuração da cromatina (utilizando técnicas de sequenciamento de nova geração), apoptose de células da granulosa e projeções transzonais.
As projeções transzonais são prolongamentos da membrana das células da granulosa e que se estendem até a membrana do óvulo através da zona pelúcida. Na membrana do óvulo, estas projeções formam junções que permitem a troca de substâncias importantes para a maturação nuclear e citoplasmática entre essas duas células (células da granulosa e óvulos).
Em conclusão os resultados deste estudo envolvendo o peptídeo natriurético do tipo C e a ampirregulina sugerem que tenha sido feito um passo significativo para o desenvolvimento de um protocolo que maximize a produção de embriões de qualidade provenientes de óvulos imaturos provenientes de folículos pequenos minimamente estimulados.

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