Contracepção masculina: futuro reserva novos métodos reversíveis e eficazes

Quando se fala em contracepção, a maioria das pessoas logo associa o assunto ao uso dos tradicionais anticoncepcionais hormonais femininos, à famosa laqueadura tubárea e à vasectomia.
 Há tempos, existem pesquisas sobre anticoncepcionais masculinos. No último dia 7 de fevereiro, a revista Basic and Clinical Andrology divulgou estudo acerca do “Vasalgel”, contraceptivo não hormonal para homens, semelhante à vasectomia, feito por pesquisadores da Universidade da Flórida, nos Estados Unidos, que demonstrou a eficácia do método em testes com macacos.
Após seis décadas do início da comercialização da pílula anticoncepcional, em 1960, que abriu as portas para a revolução sexual feminina, o novo contraceptivo pode trazer avanços, além de oferecer um certo alívio para muitas mulheres que sofrem com o uso dos hormônios. Atualmente, a vasectomia ainda é o único método usado para contracepção masculina realmente eficaz. Muitos homens consideram os preservativos um método incômodo, além de terem um índice maior de falhas quando comparados à vasectomia. O coito interrompido antes da ejaculação é uma prática extremamente insegura e a esterilização por vasectomia é um método difícil e muitas vezes impossível de ser revertido.
O surgimento de técnicas de anticoncepção não definitivas para homens pode evitar muitos problemas futuros, visto que de 3% a 5% dos pacientes se arrependem e acabam buscando a reversão da vasectomia ou uma fertilização in vitro.
Entenda como funciona o anticoncepcional masculino
A novidade não se trata do desenvolvimento de uma pílula masculina. O novo método não leva hormônios e não exige que o homem faça uso diariamente. O Vasalgel é um polímero que é injetado diretamente nos canais deferentes, bloqueando a passagem do esperma, a exemplo do que ocorre na vasectomia. Uma injeção única faria efeito por longo período.
A substância já havia sido testada em coelhos, com resultados positivos. Os macacos rhesus, agora testados, são animais mais próximos dos humanos. Eles aparentam ter tolerado bem o gel, segundo os pesquisadores. Os pesquisadores querem iniciar testes em humanos em breve. Se aprovado, o método será o primeiro novo contraceptivo masculino a chegar ao mercado em muitas décadas.
Os especialistas afirmam que o Vasalgel tem a vantagem de funcionar por até 10 anos e pode ter seu efeito revertido com uma simples injeção de bicarbonato de sódio nos mesmos canais para dissolver o gel. A vasectomia também pode ser reversível, mas a operação é complicada e não tem garantia de sucesso.
Além disso, devido à necessidade de métodos reversíveis e eficazes de contracepção masculina, esforços têm sido feitos para se desenvolver contraceptivos hormonais similares aos femininos. Compostos de testosterona seriam capazes de inibir a formação dos espermatozoides, levando a uma queda na contagem dos mesmos no período de 3 a 4 meses, com um retorno aos níveis normais de espermatozoides em 3 a 6 meses após a parada do uso do contraceptivo.
Os estudos mostram que a maioria dos homens aceitaria seu uso e que as mulheres teriam confiança no uso por parte do seu parceiro. Entretanto, o ideal seria uma redução total do número de espermatozoides, chegando ao nível de azospermia (ausência de espermatozóides), algo ainda não atingido em sua plenitude, as pesquisas têm demonstrado reduções importantes, mas não totais e completas, muito embora os resultados sejam animadores, com taxas que variam de 60 a 90% de azoospermia e taxas altíssimas de oligozoospermia grave (redução muito importante do número de espermatozóides, o que também impossibilitaria gravidezes). O uso seria com injeções semanais de testosterona.
Uma tentativa de aumentar a eficácia do método é adicionar à testosterona, a droga progesterona, para inibir mais ainda a produção dos espermatozoides. Métodos que combinam o uso de gel com progesterona e testosterona têm sido testados com bons resultados de contracepção. Novas testosteronas sintéticas, que teriam ações também similares às progesteronas parecem ser a pílula do futuro, com uma só droga realizando duas ações.
Reversão de Vasectomia pode não restabelecer fertilidade
Enquanto não avançam os testes do Vasalgel em humanos, especialistas recomendam aos homens que pretendem aderir aos métodos de contracepção masculina, e optam pela vasectomia, que avaliem a possibilidade de congelar sêmen antes do procedimento, tendo em vista que, quanto mais tempo houver se passado da vasectomia, menor a chance de sucesso numa reversão. Além disso, mesmo com a reversão, em 20 a 30% dos casos, não há uma restauração da fertilidade.
Para conseguir gerar uma gravidez após a realização de método definitivo de contracepção, o casal necessita, na maioria das vezes, passar por um procedimento de reprodução assistida, com fertilização in vitro ou inseminação intrauterina. A recanalização tubárea e a reversão da vasectomia, na maioria das vezes, oferecem menos chances de gravidez do que uma fertilização in vitro.
Fonte: Fertility and Sterility, ASRM (American Society For Reproductive Medicine).
Texto escrito por Daniel Diógenes, especialista em Medicina Reprodutiva, Diretor Técnico da Clínica Fertibaby Ceará.

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