69° ASRM – Considerações Finais

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Finalizado ontem, o 69° Encontro Anual da ASRM (Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva). Selecionei os aspectos que mais me chamaram a atenção e que nos mostram como a medicina reprodutiva vem evoluindo nos dias atuais.
1- Manutenção  do peso
Tema unânime. Não existe outra recomendação, manter o peso dentro dos limites da normalidade deve ser o objetivo de qualquer casal que esteja tendo problemas para engravidar.
2- Manter bons hábitos de vida
Manter corpo em forma, com uma atividade física regular, uma boa alimentação e sem uso de bebidas, cigarro ou drogas também deve ser o objetivo de quem deseja uma gravidez.
3- Tratamento da endometriose deve ser individualizado
Tratar a endometriose, ou melhor, tentar controlar os efeitos desta temida doença, ainda é um grande desafio. Conforme já falado no post anterior, o bom-senso deve prevalecer, o tratamento deve ser individualizado, cada paciente merece uma abordagem diferenciada, tudo tem que ser bem calculado e deve-se acima de tudo buscar a melhor opção para superar a infertilidade e a dor, mas lembrando-se sempre que a manutenção da fertilidade é um ponto decisivo na vida destas mulheres.
Um dos maiores estudiosos no assunto, o pesquisador francês Charles Chapron ministrou uma palestra enfatizando exatamente os pontos acima.
4- Uso de novas tecnologias
O uso de novos aparelhos e técnicas é sempre bem-vindo, muito embora o tempo é quem nos dirá os seus reais benefícios.
Como avanços podemos citar: uso de vaporizador como ferramenta para cirurgias laparoscópicas (uma ferramenta que utiliza o movimento de elétrons para gerar energia, apresentando mínimo potencial de dispersão de energia e excelente eficiência para coagulação de tecidos humanos), o time-lapse (uma espécie de incubadora com câmera acoplada, permitindo uma visualização integral dos embriões, assim os mesmos podem ser monitorizados durante 24 horas por dia) e  o PGS (técnica não tão recente, mas que vem avançando e permitindo diagnósticos genéticos antes da implantação do embrião no útero, tendo-se uma avaliação completa dos cromossomos, evitando-se a transferência de embriões com problemas).
5- Ciclos de Indução mais leves
Outra tendência. O uso em excesso de medicações hormonais para induzir a produção de óvulos parece não ser a melhor opção, o conceito de quanto mais óvulos melhor está mudando. O excesso de medicações pode levar ao comprometimento da qualidade dos embriões e portanto pode diminuir as chances de gravidez. Mesmo em pacientes mais velhas, as doses mais altas de hormônio parecem não mudar os resultados nos ciclos de fertilização in vitro.
6- Os Segredos do Endométrio
Vivemos a era do endométrio. Os mistérios que envolvem a regulação do mesmo e sua interação com o embrião são enormes e estão longe de serem desvendados. Acha-se que alguns problemas possam ser resolvidos, muito embora algumas evidências levem a crer que existam endométrios com defeitos permanentes e de difícil resolução.
7- Riscos da  multiparidade
Transferência única, a busca pela gravidez única, este deve ser o objetivo da medicina reprodutiva. Hoje, ainda buscamos a melhor opção, mas esse é e deve ser o caminho. Engravidar de três ou quatro não é na minha opinião sinal de sucesso. A busca deve ser sempre pela perfeição.
8- Fatores epigenéticos
O estudo e a busca por fatores que possam interferir no material genético do embrião, do óvulo, do espermatozóide e do endométrio é algo relativamente recente e ainda envolto de mistérios, mas já se sabe que o ambiente, o uso de medicações, o uso de tecnologias, tudo pode alterar o ambiente gênico e isso pode ser fundamental para o sucesso dos tratamentos de reprodução assistida. Isto é, a expressão gênica (a identidade do DNA) pode sofrer influência do meio que circunda as nossas células.
9- OMAS
O estudo de proteínas, RNAs e outras moléculas está em evidência, são os OMAS (proteomas, transcriptomas). Simplificando, seriam moléculas do nosso corpo que dependendo da localização, da concentração e da função podem aumentar ou diminuir as chances de um embrião ser gerado por um bom óvulo e de conseguir se desenvolver de uma maneira adequada num bom ambiente endometrial (uterino).
1O- Cuidado com o uso excessivo de medicações
A quantidade de medicações e substâncias que existem e surgem no mercado é imensa, a indústria farmacêutica tenta sempre vender a idéia que descobriu a solução perfeita. Temos que ter cautela e esperar que as pesquisas médicas e o tempo nos mostrem o que realmente pode ser usado para incrementar os resultados dos tratamentos de reprodução assistida. Exemplos de ciclos de fertilização in vitro custando até 70 mil dólares são comuns nos Estados Unidos e acreditem os resultados são os mesmos. Temos que evitar os excessos do capitalismo.
11- Avaliar os riscos na futura prole
Seguindo o pensamento do item acima, o uso de medicações e de tecnologias tem que ser muito bem avaliado, pois os efeitos podem se fazer presentes, somente, nos anos vindouros dos descendentes. Ainda não sabemos, e talvez nunca saibamos, se o que estamos fazendo hoje não terá um impacto negativo na vida dos adolescentes e adultos do futuro. Cautela e bom senso ainda são e, provavelmente, serão sempre a melhor opção.
Finalizando a participação neste congresso, saio com a certeza de que o caminho para se atingir o tratamento ideal ainda é longo e sinuoso, mas saio com a certeza maior ainda de que o uso correto da medicina baseada nas evidências científicas e uma avaliação criteriosa e equilibrada das diversas opções de tratamentos é a melhor opção a ser seguida.

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